O reconhecimento de todos os angolanos e dos muitos cidadãos, organizações e países estrangeiros, que contribuíram para os vários momentos da História, é essencial para continuarmos a construir a Nação e preservarmos as conquistas alcançadas, afirmou, quinta-feira, em Luanda, o Presidente da República, João Lourenço.
Ao discursar na 8.ª Cerimónia de atribuição de medalhas comemorativas, no âmbito dos 50 anos da Independência Nacional, o Chefe de Estado angolano esclareceu que foi com o objectivo de reconhecer a bravura, o patriotismo, a determinação e a entrega às causas nacionais que, no quadro da lei aprovada especificamente para este jubileu, se deu início ao processo de condecorações de vários cidadãos nacionais e estrangeiros.
“Foram contemplados com a medalha dos 50 anos da nossa Independência Nacional, nas diferentes categorias, 4.690 cidadãos dos mais diferentes segmentos da sociedade angolana, numa clara demonstração de que, em Angola, valorizamos e reconhecemos a bravura, a entrega, a dedicação e o talento dos angolanos em praticamente todos os domínios da vida”, sublinhou o mais alto mandatário da Nação.
O Presidente João Lourenço referiu, ainda, que não fossem as limitações de vária ordem, “continuaríamos aqui a reconhecer o contributo e o mérito de milhões de angolanos merecedores do reconhecimento da nossa Pátria para com os seus filhos”.
Como justificação do acto de distinção, lembrou que o 11 de Novembro de 1975 foi o dia aguardado com mais ansiedade pelo povo angolano e é, sem dúvidas, o dia mais importante da História colectiva de Angola, que marcou o início de uma nova era.
“Com a nossa Independência, conquistámos a liberdade e, sobretudo, a nossa dignidade enquanto seres humanos e o direito de sermos donos do nosso destino”, acentuou o Chefe de Estado, para quem “o marco simbólico dos 50 anos impele-nos a olhar para trás e relembrar a longa trajectória percorrida até aqui”.
O Estadista angolano destacou as várias etapas que marcaram o processo histórico angolano, da resistência à opressão colonial, ao surgimento do nacionalismo angolano, da luta de libertação nacional à conquista da Independência Nacional, do conflito armado entre filhos da mesma terra ao abraço da reconciliação, da destruição feita pela guerra à reconstrução nacional e do percurso para a construção de uma Angola desenvolvida e próspera.
Mas, este marco, observou o Presidente da República, “é, também, um momento sublime para reflectirmos sobre o futuro que estamos a construir com o contributo de todos os angolanos”.
Outorga a Chefes de Estado e de Governo
João Lourenço ressaltou o facto da cerimónia de, ontem, ter distinguido, com medalhas da Classe de Honra, 40 antigos Chefes de Estado, Chefes de Estado e de Governo de vários países, cujo papel e contributo foram determinantes para que a Luta de Libertação Nacional tivesse êxito, “para que conseguíssemos resistir a 27 anos consecutivos de conflito armado”, mas também “para que a paz fosse uma realidade e a reconstrução e o desenvolvimento fossem acontecendo até aos dias de hoje”.
“Este é um gesto de reconhecimento e de agradecimento para com estes povos e países pelo inestimável apoio ao povo angolano”, disse.
O Chefe de Estado agradeceu, ainda, a inestimável ajuda dos então chamados países socialistas da Europa do Leste, com destaque para a ex-União Soviética, determinante para a conquista da Independência e da soberania nacional, preservação e consolidação do Estado angolano e pela formação dos jovens quadros nacionais nas suas universidades e academias militares.
Ao “povo irmão de Cuba”, o Presidente da República manifestou profunda gratidão pela realização da muito ousada “Operação Carlota”, que abriu caminho para a vinda e participação de soldados cubanos nas principais operações militares em Angola contra os invasores estrangeiros.
“Agradecemos pela formação massiva de nossos jovens em Cuba em especialidades civis e militares e a cooperação na educação e saúde, enquanto nossos quadros se formavam”, enfatizou João Lourenço, que estendeu o reconhecimento ao Brasil pela confiança, em virtude de ter sido “o primeiro país a testemunhar o nascimento de um novo país” e a reconhecê-lo como Estado soberano, “quando todos preferiam esperar para ver”.
À República Popular da China, João Lourenço agradeceu o apoio num momento em que, terminada a guerra, foi prometida a Angola ajuda, através de uma cimeira de doadores, para a reconstrução nacional, que nunca se veio a concretizar.
Sublinhou ter sido a China que concedeu ao país uma linha de financiamento com valores substanciais, que permitiram a reconstrução das principais infra-estruturas destruídas, como estradas e pontes, subestações e redes de transmissão eléctricas, sistemas de produção, adução e distribuição de água, a reabilitação do Caminho-de-Ferro de Benguela, hoje principal activo do Corredor do Lobito, ou a construção de grandes e modernos portos e aeroportos, como o porto de águas profundas do Caio, em Cabinda, e o Aeroporto Internacional Dr. António Agostinho Neto.
João Lourenço estendeu os agradecimentos ao Vaticano, pelo gesto do Papa Paulo VI em ter recebido em audiência os líderes dos Movimentos de Libertação de Angola, Moçambique e Guiné Bissau, respectivamente MPLA, FRELIMO e PAIGC, numa mensagem clara para os círculos mais conservadores da Igreja e para o mundo “de que o colonialismo devia cair, dando lugar ao surgimento de países independentes nas ex-colónias portuguesas”.
“Agradecemos às igrejas protestantes, metodistas e congregacionais americanas e canadianas, pelo papel de educação e formação da consciência nacional incutida aos jovens angolanos nas missões evangélicas pelos missionários e pelo bom trabalho social nas áreas da educação e saúde, realizado nas comunidades mais pobres”, referiu o Chefe de Estado angolano, que manifestou gratidão, também, aos Comités de Solidariedade que surgiram na Europa Ocidental, na Suécia, nos Países Baixos, no Reino Unido e na Itália.
“Não podemos deixar de agradecer muito especialmente aos países africanos que acolheram no seu solo os nossos movimentos de libertação, nomeadamente a Argélia, Marrocos, a Tanzânia, o Congo Brazzaville e a Zâmbia, a todos os países da chamada ‘Linha da Frente’, pelo papel determinante que tiveram na luta contra o apartheid”, sublinhou, reconhecendo a importância da ajuda financeira concedida pela Nigéria juntamente com a Argélia.
“Não nos esquecemos dos combatentes guineenses que combateram na Frente Centro e Sul, lado a lado com as nossas Forças Armadas”, afirmou João Lourenço, para em seguida estender os agradecimentos aos países que acolheram as diferentes rondas de negociações de paz”, salientou João Lourenço.
José Eduardo dos Santos teve papel ímpar na paz
A outorga da medalha dos 50 anos da Independência, na Classe de Honra, a José Eduardo dos Santos, referiu o Presidente João Lourenço, serve de reconhecimento do seu contributo histórico enquanto líder da Nação angolana durante vários anos, “mas sobretudo pelo seu papel ímpar no alcance da paz e na reconciliação nacional, que lhe valeu o título de Campeão da Paz e da Reconciliação Nacional”.
A cerimónia foi marcada, ainda, pelo reconhecimento, na Classe de Honra, a 40 antigos Chefes de Estado e actuais Chefes de Estado e de Governo, entre os quais os ex-líderes de Cuba e Moçambique, Fidel Castro e Nelson Mandela, respectivamente.
Foram, ainda, condecorados, o actual Presidente da República do Congo, Denis Sassou Nguesso, e o antigo monarca marroquino Hassan II “Rei Hassan II” e os antigos Chefes de Estado Ahmed Ben Bella e Houari Boumedienne (Argélia), Ahmed Sékou Touré e Alpha Condé (Guiné), João Bernardo Vieira “Nino Vieira” (Guiné-Bissau), Jomo Kenyatta (Quénia), Kenneth David Kaunda (Zâmbia), Kwame Nkrumah (Ghana), Marien Ngouabi (Congo) e Murtala Ramat Mohammed (Nigéria).
Na lista de reconhecidos pelo contributo a Angola constam, ainda, Mwalimou Julius Nyerere (Tanzânia), Olusegun Obasanjo (Nigéria), Omar Bongo Ondimba (Gabão), Pedro Pires (Cabo Verde), Robert Gabriel Mugabe (Zimbábue), Samuel Daniel “Sam Nujoma” (Namíbia) e Seretse Khama (Botswana).